a minha cidade favorita.

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Oi gente! Como prometido, vim falar sobre a minha cidade preferida das que conheço nesse mundo. Esse post é um pouco diferente. Ele não segue o estilo “diário de viagem” que os da Patagônia implicaram – vocês provavelmente vão perceber essa mudança de estilo. Existem formas e formas de contar como se conhece um lugar. Esse lugar fala com o meu coração de outro jeito. Então, nada mais justo que vocês vejam um pouco do meu coração no texto, também.

Gosto de pensar que já estive em muitos lugares. São vinte e cinco países, afinal (rumo ao vinte e seis! Conto pra vocês em breve!) e, na grande maioria deles, conheci as capitais e cidades grandes. Conheci algumas metrópoles. Elas sempre me atraíram bastante.

Alguns de vocês deram algumas sugestões sobre qual seria a minha cidade grande (é importante frisar: grande) preferida das que conheço, todas as sugestões muito acuradas. Alguém falou São Paulo.

Bom, eu nasci e cresci em São Paulo, capital, na zona sul, mais especificamente. Morar a vida inteira aqui - até os vinte e um anos, quando me mudei para a Alemanha por um período, numa cidade muito diferente (para voltar depois) - me fez apreciar as metrópoles. Aprendi a conviver com todas as partes ruins. Trânsito, asfalto ruim, barulho, o ritmo acelerado, as pessoas nem sempre bem educadas, presas em seu mundinho infinito, narcisistas que só elas; e aprendi a amar as partes boas, a arte de rua que alguns chamam de pichação, as luzes vermelhas dos carros refletindo nas gotas de chuva nos vidros durante um engarrafamento, os dias de sol que às vezes parecem tão raros, às vezes constantes, a situação de ter um parque no meio de uma selva de pedra. Não sei, a estrutura de uma metrópole, tanto a boa quanto ruim, sempre me encantou.

Apesar de amar São Paulo com todas forças com as quais amamos nossas cidades natais, normalmente - e espero que um dia possa falar muito sobre este lugar aqui no blog - não foi essa a metrópole que mais me encantou, daquelas que conheci. Outra pessoa mencionou Berlin. Passou bastante perto. Mas a minha cidade favorita no mundo fica numa ilha, a nove mil quilômetros leste.

Acertou quem pensou em Londres.


Me emociono só de olhar!

A minha história com Londres é mais antiga do que a minha história com a Horizontes. Isso porque quando meu pai era ainda professor e eu tinha uns sete anos, já era fã das Spice Girls e do ônibus de dois andares que as levava para todos os lugares. Sonhava em conhecer a terra da Rainha Elizabeth, que tem o mesmo nome que a minha mãe. Era um pouco apaixonada pelos Príncipes William e Harry. Colecionei coisas com a Union Jack (o símbolo da bandeira do Reino Unido) por muito tempo.

Porém, a minha primeira visita à capital inglesa foi bem mais tarde que isso. Eu já tinha vinte e um anos. Já não era tão fã das Spice Girls (ou pelo menos fingia ter deixado essa fase para trás) - mas minha empolgação permanecia a mesma. Escrevi uma espécie de diário de viagem em que a primeira frase dizia: “Espero estar indo para o meu lugar nesse mundo”. Era o verão europeu de 2010, dia 15 de Julho, quando eu desci no aeroporto de Heathrow. O objetivo era me encontrar com o meu pai depois de alguns meses em que estava morando longe de casa. Mas o verdadeiro objetivo era passar o fim de semana em Londres e descobrir se aquele era mesmo o meu lugar nesse mundo.

O aeroporto de Heathrow é enorme - são tantos terminais e portões que você precisa se comunicar entre eles por minutos e minutos de metrô. Metrô mesmo, que eles (os inventores) chamam de underground e que liga o aeroporto à cidade através da linha azul, chamada também de Picadilly Line. Se você vai parar Londres, é muito importante que você tenha duas coisas: um tube map e um Oyster Card, que no português claro chamamos de Bilhete Único.

(mas atenção, não cometa o mesmo erro que eu cometi pela primeira vez: o Oyster Card não paga o trem chamado Heathrow Express. Eu só não fui expulsa porque o mocinho indiano que trabalhava no trem resolveu ser simpático com a turista perdida! Hahaha)



Decore o tube map... Mas verifique :p


E antes de começar, mind the gap!


Se você tem um mapa do metrô, passar um tempo desvendando a linha amarela (a Circle Line, que não tem início nem fim) e tiver seu Oyster Card carregado, você pode fazer absolutamente tudo em Londres. Essa, inclusive, é uma das coisas que eu mais gosto desta capital. Tudo pode ser feito utilizando o transporte público e de forma eficiente. O trânsito é pesado, caótico, principalmente no horário de rush, mas há muito tempo - por investirem cada vez mais no metropolitano, nas linhas de ônibus e no pedágio para ingressão ao centro - a cidade valoriza formas alternativas de transporte que não sejam o carro. Então, por isso mesmo, bem ao contrário de São Paulo, em Londres você consegue fazer tudo "a pé".

E fazer tudo “a pé” é sempre uma das minhas atividades preferidas para conhecer um lugar. No primeiro fim de semana que passei em Londres, me hospedei num hotelzinho na High Street Kensington (outra coisa que me faz amar a cidade: os nomes das ruas e bairros! Soa tudo tão majestoso!) que até hoje deve ser um dos hotéis preferidos em que me hospedei. Ele não tinha nada demais, mas se eu pudesse projetar um quarto para mim, e se a condição fosse conforto e simplicidade, o meu quarto seria daquele jeito. Como sempre, vou deixar o nome desse hotelzinho nas minhas recomendações, no final do post. E dali, conheci o máximo das atrações turísticas que eu poderia.

Desde a minha primeira visita a Londres, já tive a oportunidade de voltar mais quatro vezes. Todas essas vezes foram distintas, com propósitos diferentes, sendo a maioria a trabalho. Mas consegui evitar cair na mesmice mesmo quando tinha que retornar para pontos turísticos. Foi tudo no detalhe, no instinto. É uma das coisas que me impressiona em grandes metrópoles – você precisa se usar do seu instinto, de alguma forma. Você aprende a usá-lo. Entrar numa loja de discos que passa despercebida entre grandes lojas de departamento, ou pedir um cappuccino em algum lugar diferente do Starbucks. Conversar, perder um pouco a timidez, a vergonha na cara.

Tem muita coisa para se ver. Mesmo cinco visitas depois, não deixei de descobrir lugares diferentes e digo sem cerimônias que não conheço tudo que deveria ainda em termos de atração turística e histórica. É que existem muitas Londres. É outra coisa que me atrai no lugar. Essa é uma das cidades mais antigas do mundo. Há a Londres medieval, cheia de mistérios e ruelas, a história dos reis que é uma teia com uma aranha faminta. A Londres que já foi o lugar mais sujo e mais perigoso do mundo. A Londres que foi palco da revolução que realmente revolucionou a nossa vida, a industrial. A Londres que ainda abriga uma nobreza, uma família real que é dona de tudo, que licencia o seu povo a morar ali, e que está presente em detalhes que parecem bobos, como um símbolo numa caixa de correio ou uma nota numa caixa de chás autorizada pela família real. A Londres que é a casa financeira de um dos países mais ricos do mundo, de uma das bolsas de valores mais importantes, mas que ainda para às onze horas para ver a troca de guardas no palácio de Buckingham.


O Big Ben não é o relógio, sabiam? É o sino (:


O início da Oxford Street


Existe a Londres tradicional, do chá das cinco, do fish&chips no pub depois do trabalho; existe a Londres que é maluca, com seus jovens embriagados cantando músicas que nasceram ali que nem eles enquanto voltam para suas casas nos ônibus vermelhos que circulam pela madrugada. Existe a Londres das pessoas que não usam calças jeans e que têm uma cor de cabelo por semana. Existe a Londres da famosa loja Harrods, em que um copo de cristal pode custar mais que o salário de uma pessoa da Londres de Camdem Town, o lugar dos punks, que vende as meias-calças mais resistentes que eu já vi na vida – mesmo que eles adorem usá-las rasgadas. E você nunca sabe exatamente em qual Londres você está.

Eu sei que eu poderia estar descrevendo qualquer grande metrópole, reduzindo as especificidades. Inclusive a minha amada São Paulo. Mas o que me deixa intrigada e instigada com essa grande metrópole, é que essas Londres diferentes não surgiram de uma hora para outra. O lugar está em pé (mesmo quando caído, às vezes) pelo menos desde 43d.C. Eu sou uma rata de história. Não existe nada que me fascina mais do que estar num lugar que foi o palco de situações que mudaram a história do mundo, da humanidade. E Londres faz esse papel perfeitamente em todos os sentidos: música, literatura, política, economia, todas as ciências humanas e as artes, há um pedacinho de Londres nelas, e há um pedacinho delas em Londres.


Um detalhe que nos lembra que tudo pertence à coroa.


E mais um.


E a Picadilly Circus


E Camden Town (:


Por isso, eu poderia continuar esse post dando dicas do que fazer no local. Acho que posso fazer isso. Mas acho também que cada um sabe o que faz o seu coração vibrar, e o que gostaria de conhecer num lugar tão rico de tudo. As minhas dicas são dicas que me fizeram me apaixonar pela cidade – pode ser que você não a ache tão impressionante se segui-las. Na verdade, é a beleza da metrópole, o instinto.

Recomendações:

  • Hotel Seraphine, na High Street Kensington. Nunca amei um hotelzinho tanto quanto a esse.
  • Café de Pierre, bem na frente do Hotel Ritz. A salada com molho de mostarda e nozes é a melhor que já comi na vida, sem brincadeira.
  • Villagio, restaurante italiano em Hammersmith. Apenas amor.
  • Uma passadinha no bairro de Wimbledon - sim, o do tênis. Um monte de teatros e restaurantes legais.
  • The John Snow (que não tem site!), um pub bem divertido na Broadwick Street.
  • The Food Court, ou a "praça de alimentação" da famosa loja Harrods. Parece a doceria do Harry Potter.
  • Você precisa visitar o British Museum, o Natural History Museum e a Tate Modern Gallery. Depois, pense em todos os outros.
  • Já que você está em Londres, vale a pena pegar um trem e ir para dois lugares fora da cidade: a cidade de Oxford (para conhecer a universidade, sim) e também para Windsor, conhecer a moradia humilde da rainha e repensar o significado de riqueza.
  • A estação de trens Waterloo, de onde saem os trens subterrâneos para Paris, é um espetáculo à parte.
As fotos desse post foram tiradas não só por mim, mas pelo Hunter Fonseca e para Lauren Rodrigues, dois amigos com quem tive a oportunidade de dividir um pouquinho do meu amor pela capital inglesa. Obrigada pelas fotos!

Se alguém conhece Londres bem e quiser deixar alguma dica, a caixinha de comentários está aí para isso! Gostaria muito de aumentar essa lista de recomendações. Mas é que a principal sempre é essa: seguir as suas vontades e conhecer a cidade da melhor forma possível: andando por aí com um fone de ouvido e músicas boas para a trilha sonora. (falando de música, escrevi esse post escutando o cd de uma banda folk londrina que vocês já devem conhecer, mas vou recomendar mesmo assim: Mumford&Sons - o cd é o Babel!)

Eu gostaria de agradecer o apoio e o incentivo de vocês. 2015 vem aí e eu espero que o projeto do blog se desenvolva cada vez mais e que possamos viajar juntos por aí! Um beijo e espero demorar menos para o próximo post.

Alguém aí está morrendo de vontade de ir pra Londres também?


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