O Fim do Mundo - Parte 2

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Finalmente tirei um tempinho para continuar o post sobre a Patagônia! Se você perdeu o primeiro da série, pode ler aqui (: Bom, só recapitulando, eu tinha contado sobre a parte mais ao norte do extremo sul da América, nas cidades de Puerto Varas e Puerto Montt, e as belezas dessa região.

Depois dos primeiros dias ali na presença do Vulcão Osorno e do lindíssimo lago Llanquihue, continuamos a nossa jornada pegando mais um avião e indo para Puerto Natales. Onde, meus amigos, estava frio. Estava MUITO frio.

Quando você vai para Puerto Natales, onde fica um dos lugares mais emblemáticos da Patagônia chilena (o Parque Nacional Torres Del Paine), é necessário pousar no aeroporto de Punta Arenas, o último rastro de civilização moderna dessa região. Eu não estou brincando: depois que você pega um ônibus para Puerto Natales, são mais ou menos quatro horas de estrada completamente deserta.

Sério, me deu até uma afliçãozinha. Fiquei pensando como daria para se virar se alguém passasse mal ou se tivesse algum problema com o transporte. Não tinha nada por lá, gente. Absolutamente nada. Quilômetros e quilômetros de planície em que você só conseguia avistar ovelhinhas aqui e ali. E essas também eram bem raras. Anoitecia muito tarde (acontece quando se está tão no extremo do mundo), lá pelas dez ou onze da noite, de vez em quando. Mas ainda assim, não ajudava muito aquele cenário de filme de faroeste ao contrário.

Milhas e milhas de NADA :D

Estreito de Magalhães

Eu queria falar um pouquinho sobre ele antes de continuar pelos outros pontos, porque a história toda é bastante interessante. Você se lembra do Fernando de Magalhães, aquele português que estava loucão de vinho e achava que os índios da região eram gigantes? Então. O Fernando foi o primeiro explorador desta região, e ele "descobriu" esse importante canal natural, de 600km, que ligava os oceanos Pacífico e Atlântico.

Por que isso era importante? Por que a outra maneira de atravessar de um oceano para o outro era contornando por baixo através do Cabo Horn, uma viagem extremamente perigosa. Então, num mundo recém obcecado com rotas comerciais marítimas, essa descoberta foi incrível! O problema todo é que, depois que Magalhães deixou sua marca ali, foi complicado para que os próximos exploradores encontrassem o tal canal. Isso porque a região - inicialmente chamada de "Rabo do Dragão" (eu gosto desse nome! haha) - é um arquipélago, ou seja, um emaranhado de diferentes ilhas, fiordos e canais, basicamente um labirinto.

Parece mesmo o rabo de um dragão!


Alguns anos depois da primeira navegação por ali, em 1557, outro explorador, um espanhol dessa vez, chamou a região de "Última Esperanza", porque ele realmente tinha se perdido bastante naquele arquipélago. Foi assim que a província chilena foi batizada como Última Esperança - e para falar a verdade, demorou mais três séculos para que outras expedições (só nos anos 1800!), dessa vez de navios britânicos, encontrassem e traçassem o Estreito de Magalhães conforme conhecemos hoje, e também outras alternativas de passagem, como o Canal Beagle na Terra do Fogo (falamos dele no próximo post).

O Estreito de Magalhães foi muito importante por alguns anos, até a construção do Canal do Panamá pelos franceses. A facilidade de navegação pelo Canal do Panamá fez com que a região caísse no esquecimento. pelo menos como rota comercial.

O belíssimo monumento ao vento em Puerto Natales, nas margens do Estreito de Magalhães

Puerto Natales e a Caverna do Milodón

A cidadezinha de Puerto Natales é recente, de 1911. Ela foi criada como um porto para a produção pecuária de ovinos da região, e mais tarde para a exploração de carvão, mas o que restou da importância da cidade está diretamente conectada ao turismo. Basicamente, a cidade toda é voltada para ele.

Ali pertinho - de verdade, no máximo meia hora de distância da cidade - fica a chamada "Caverna do Milodón", ou Cova do Milodón. Consiste em uma formação natural de cavernas onde foram encontrados ossos de uma preguiça (sim, uma preguiça) gigante de cinco mil anos atrás, que ganhou o nome de Milodón. Essa preguiça tinha mais ou menos três metros de altura e poderia pesar até trezentos quilos. Credo!

Eu e o grupo caminhamos pelas formações e não encontramos o Milodón (haha, ele já está extinto, gente) mas encontramos coelhos selvagens, lagartos e uma porção de borboletas branquinhas. A visita vale a pena para quem gosta de caminhar e é fascinado por geologia. Eu achei bastante interessante, principalmente a "Cadeira do Diabo", a caverna mais importante - aquela onde foram encontrados mais restos do animalzão.

Uma das formações da Caverna do Milodón


Eu (tava gordinha :D) e uma estátua besta do Milodón que obviamente não tem três metros.

Uma curiosidade: quando eu estava em Puerto Natales, foi meu aniversário de vinte e cinco anos! Meu pai pediu que o hotel me entregasse uma cesta com vinho e chocolate e o grupo foi muito fofo e me deu um presente de aniversário (uma pulseira com a pedra lapislazula) e me surpreendeu com um bolinho pela manhã!

Uma das partes difíceis de viver viajando a trabalho é realmente essa: você não pode se apegar a datas comemorativas ou a momentos em que você gostaria de estar com seus amigos ou sua família. Você tem que fazer o melhor para considerar o seu grupo sua família e se sentir grato por experimentar coisas que a maioria das pessoas só sonha em fazer! É assim que eu lido quando a coisa toda aperta. Óbvio, que a existência da internet e do whatsapp ajuda muito nesses momentos né?

E por falar nisso, um dos melhores almoços que eu tive nesse ano foi no dia do meu aniversário! Nós comemos em um restaurante que misturava tendências africanas e patagonas (!!) e ficava ali mesmo, em Puerto Natales. A decoração era toda temática e a comida, sensacional. Eu me lembro de comer um frango com crosta de amendoim, mandioca e um molho apimentado de berinjela e curry que estava demais. Então, se um dia você se perder em Puerto Natales, pode comer nesse lugar, o Afrigonia. Ele também serviu o melhor Pisco Sour que eu já tomei na vida. E Deus sabe que eu já tomei alguns.

A surpresinha do meu grupo no café da manhã!

O lindo copinho do Afrigônia - e o melhor Pisco Sour da vida!


Parque Nacional Torres Del Paine

Então, depois do meu aniversário, visitamos um dos lugares mais emblemáticos da Patagônia: o Parque Nacional Torres Del Paine, que fica a uns 100km da cidade de Puerto Natales. Eu estava bastante impressionada com tudo, mas confesso que pouquíssimas coisas na minha vida me impressionaram mais que esse parque. A beleza da paisagem é indescritível - e a estrada não é lá tão curta, mas faz parte do belíssimo passeio. De verdade, poucas coisas que eu já vi são mais bonitas do que as montanhas Paine e os lagos e os glaciares que as cercam.

O destino é bastante visado por mochileiros e escaladores. Existem diferentes trilhas que você pode seguir de acordo com o tempo que você tem disponível e a sua habilidade em trilhas. Eu fiquei com a trilha mais simples e fácil, aquela que se faz de ônibus; fizemos apenas uma parte à pé, para conhecer um dos glaciares. É muito importante permanecer dentro das trilhas, porque o parque é habitado por animais selvagens como pumas, que podem ser mortais. Inclusive, quando estávamos lá, um argentino estava desaparecido dentro do parque fazia uma semana e a polícia fazia buscas, mas o insucesso os fazia imaginar que tinha sido um ataque de puma. Preciso inclusive pesquisar se alguma coisa aconteceu com ele! (update: encontraram o corpo do rapaz :| aparentemente não foi ataque de puma, ele se acidentou. que tristeza!)

É claro que você tem que ir preparado para caminhar, o frio (é bem frio) e a possível chuva, mas seguindo as extensas normas do parque e se mantendo no caminho correto, é impressionante o que você vai encontrar. Acho que vou deixar as fotos falarem por mim.

O hotel Tierra Patagonia, um resort de luxo no meio do parque. Parece que o Bono ficou um tempo aí.

Esse é o Salto do Rio Paine. Sim, é de verdade.

Ponte que atravessa o Rio Pingo, para ver os glaciares

*música do Senhor dos Anéis no fundo*

O lugar mais bonito que eu já vi, acho. Ao fundo, as "torres".



No próximo post, que é o último sobre a Patagônia, vou falar sobre dois lugares incríveis: El Calafate (pra vocês verem um pouquinho de gelo) e Ushuaia, a famosa Terra do Fogo! Obrigada a todo mundo que me incentivou e me deu apoio no primeiro post! Espero que gostem desse também!

Recomendo:
Hotel Costaaustralis, em Puerto Natales, em frente ao Estreito de Magalhães.
Restaurante Afrigônia. Sério, eles não tem site, mas quem for para lá precisa comer nesse lugar e tomar um Pisco por mim.
Feirinha de Artesanato em Puerto Natales, para quem gosta de coisas de lã (:


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